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Síndrome do coração partido
Jornal Tribuna de Leme | 10/09/2022

Síndrome do coração partido

Síndrome do coração partido

Síndrome do coração partido, cardiomiopatia de Takotsubo ou, ainda, cardiomiopatia induzida por estresse são os nomes pelos quais é conhecida uma doença do músculo cardíaco cuja principal característica é a disfunção súbita, mas transitória, do ventrículo esquerdo. Essa alteração usualmente é desencadeada por situações de estresse agudo emocional ou físico, seja a morte de uma pessoa querida, a perda do emprego, o rompimento de um relacionamento afetivo, um acidente automobilístico com graves consequências, crises de asma. Até saber que acertou os seis números da Mega-Sena em dia de prêmio acumulado, assistir à vitória da seleção de futebol ou receber uma promoção inesperada pode, também, funcionar como fatores de risco para a manifestação da síndrome.

De maneira geral, situações que despertam forte emoção provocam aumento na produção de adrenalina e de outros hormônios do estresse pelas glândulas adrenais.  Essa descarga de adrenalina na corrente sanguínea determina um estreitamento temporário nas artérias que irrigam o coração e interfere no funcionamento do músculo cardíaco. Como resposta, o organismo pode produzir sintomas semelhantes aos do infarto agudo do miocárdio em pessoas predispostas, mas sem nenhum sinal de doenças obstrutivas nas coronárias.

Para mascarar ainda mais o quadro, o episódio vem acompanhado por alterações registradas no eletrocardiograma e pela elevação discreta dos níveis de troponina no sangue, uma enzima indicativa de lesão ou insuficiência do músculo cardíaco, que ocorre tanto na cardiomiopatia por estresse como nos ataques cardíacos.

Grosso modo, o que acontece na síndrome do coração partido é um descompasso temporário no funcionamento do músculo cardíaco. Enquanto as outras partes do ventrículo funcionam normalmente, ou apresentam contrações mais rápidas e descontroladas, o ápice e o centro do ventrículo esquerdo sofrem uma espécie de paralisia transitória durante a sístole, distúrbio que o deixa sem força suficiente para impulsionar o sangue para o resto do corpo através da válvula da aorta. O acúmulo de sangue dentro do ventrículo esquerdo lhe confere o formato abaulado típico da enfermidade.

Em 1990, pela primeira vez, médicos japoneses identificaram as características da cardiomiopatia induzida por estresse e estabeleceram uma analogia entre a imagem do coração partido e a de uma armadilha em forma de vaso de fundo arredondado e pescoço estreito, utilizada para capturar polvos no Japão. Daí vem o nome cardiomiopatia de takotsubo (tako = polvo + tsubo = vaso, pote) pelo qual a doença também é conhecida.

Em geral, a síndrome do coração partido dura de sete a 30 dias, tem evolução benigna e prognóstico favorável, já que não deixa marcas permanentes no coração. Raros são os casos em que a doença pode levar o paciente a óbito.

Causas

Ainda não foi determinada a causa específica da síndrome do coração partido, mas já se sabe que, por volta de 80% dos casos, ela pode ser desencadeada por acontecimentos estressantes que promovem descarga de hormônios de estresse, especialmente da adrenalina, na corrente sanguínea.

No entanto, ainda não é possível determinar o mecanismo que induz o aparecimento dos sintomas em aproximadamente 1/3 dos episódios.

Estudos hemodinâmicos deixam claro, porém, que a causa do distúrbio não está no bloqueio das artérias coronárias por um coágulo de sangue ou ateroma, mas, sim, no mau funcionamento do ápice e da região central do ventrículo esquerdo, condição que pode levar à insuficiência cardíaca temporária e simular o infarto agudo do miocárdio.

Um grupo de pesquisadores italianos conseguiu identificar o mecanismo fisiopatológico da doença. Eles partiram da hipótese de que a descarga de adrenalina produz espasmo dos pequenos vasos coronarianos, fenômeno que não é perceptível na coronariografia, mas compromete a microcirculação, impedindo que as células musculares do coração exerçam suas funções adequadamente. Eles conseguiram também demonstrar que, na maior parte dos casos, passada a fase aguda, a disfunção microvascular regride, o coração retoma os batimentos normais e os sintomas desaparecem.

Continua na próxima edição...

COLABORAÇÃO DA DRA. ROSA RAGNERI – VITALABOR LABORATÓRIO – 3571-5503