Notícia

  • Home
  • PROJETO DE AJUDA HUMANITÁRIA NA GUINÉ BISSAU
PROJETO DE AJUDA HUMANITÁRIA NA GUINÉ BISSAU
Jornal Tribuna de Leme | 13/12/2023

PROJETO DE AJUDA HUMANITÁRIA NA GUINÉ BISSAU

Jornal Tribuna de Leme em: entrevista com Rute, a criadora do Projeto de Ajuda Humanitária na Guiné Bissau.

Jornal: Rute compartilhe conosco a história por trás do seu projeto de ajuda humanitária na Guiné Bissau. O que te inspirou a iniciar essa iniciativa?

Rute: De acordo com o dicionário o adjetivo “forjado” significa que se forjou, fundido e malhado numa forja até tomar determinada forma. Fui forjada pelas mãos do melhor ferreiro deste mundo, o Nosso Deus. Cresci dividida entre a casa de meus pais, numa realidade muito difícil e a casa da avó materna, a melhor pessoa que já conheci nesta vida. Ela era doce e brava, pequena na estatura e gigante na criatividade e ousadia. Em sua casa havia um ateliê. Lá ela pintava quadros e tecidos, bordava com todas as linhas e cores possíveis, costurava vestidos, bonecas, panos e toalhas. Ela me ensinou a economizar o máximo que puder e sempre ajudar pessoas. Ela fazia bolos para doação, costurava panos e toalhas para o bazar, doava sempre o que podia, nunca reteve o bem. Aprendi com ela. Hoje ela descansa. Eu continuei o que ela fazia...

Tenho um casal de amigos que foram passar a lua-de-mel na África e não voltaram mais. Foi assim que conheci as crianças da aldeia de Bañira II. Os alunos estudavam em salas de aula feitas de bambu e palha, os móveis eram troncos de árvore. Neste local ao céu aberto crianças de idades variadas eram alfabetizadas. A inquietude surgiu dentro de mim. O que eu poderia fazer para mudar essa realidade?

Jornal: Pode nos contar mais sobre as T-shirts que você produz e vende como parte do seu projeto? Como as vendas dessas T-shirts contribuem para a sua causa?

Rute: Observando a realidade destes alunos africanos, tentei pensar uma maneira de ajudá-los. Eram necessários recursos para mudar essa situação. Foi quando pensei em produzir camisetas para venda. Criei alguns modelos bordados ou com aplicação de tecidos, mas para desenvolver esses modelos eu precisaria de profissionais para produzir as peças o que traria um custo elevado destes produtos.  Comecei então a pesquisar confecções no Brasil que pudessem produzir as camisetas para venda. Foi aí que conheci as t-shirts femininas. Fiz a primeira compra e vendi todas. As t-shirts são de algodão em cores variadas e estampas criativas, com personagens da Disney, frases engraçadas, com versículos bíblicos e com apliques. A venda das t-shirts contribui 100% para a construção das escolas. Num período de 18 meses, consegui vender aproximadamente 500 t-shirts e todo o dinheiro arrecadado transformou-se em um prédio com 5 salas de aula totalizando 200m2 e hoje abriga 160 alunos em períodos manhã e tarde.

Jornal: A abertura de escolas é uma parte crucial do seu projeto. Quais são os principais desafios que você enfrenta ao abrir e manter essas escolas na Guiné Bissau?

Rute: Nós dependemos da venda das t-shirts para o envio dos recursos para Guiné-Bissau. Além das vendas, recebemos também algumas doações. No ano passado, ganhamos um instrumento musical que foi vendido e todo o dinheiro enviado para a construção da escola. Um grande desafio que surge depois da construção da escola são os professores. Precisamos de parceiros apoiadores do projeto que ajudem no pagamento dos salários e também os lanches dos alunos. A maioria dos alunos não possuem estrutura familiar e nem recursos financeiros para o sustento dos membros da família. A única refeição que alguns fazem é na escola.  Tudo vem de doações. Parcerias para sustento do projeto, parceria para construção de escola, parceria para materiais.

Jornal: Para 2024, você tem planos para abrir uma nova escola na Guiné Bissau. Como você está se preparando para esse empreendimento e quais são as metas para essa nova escola?

Rute: Quando fiz a viagem deste ano para inaugurar a escola em Bañira II, tive a oportunidade de conhecer várias aldeias no país. Algumas delas com prédios escolares de alvenaria e outras na palha. Foi então que decidi iniciar um novo projeto na aldeia de Poel. A meta para a escola em Poel, são 4 salas de aula. O projeto necessita de aproximadamente R$15.000,00 para conseguirmos fazer os tijolos, erguer as paredes, rebocar, cobrir e comprar algumas mobílias. O objetivo de vendas é de aproximadamente 500 t-shirts até novembro de 2024.

Jornal: Uma parte importante do seu projeto envolve a promoção de aulas de costura na Guiné Bissau. Como a habilidade da costura está impactando a vida das pessoas na comunidade local?

Rute: A realidade das mulheres na Guiné-Bissau é bem diferente da realidade a que estamos acostumados. Lá as mulheres são submetidas ao trabalho pesado com lenha. Dar a elas a oportunidade de uma nova possibilidade de vida é surpreendente. Na última viagem, pude levar 3 máquinas de costura e também os moldes para a aulas. As adolescentes do projeto precisam aprender desde ligar a máquina, até todo o manuseio.  Por meio da costura as possibilidades de recursos para a mudança da realidade da vida são muitas. É possível a confecção de vestidos, roupas em geral e utensílios de cabelo para venda.

Jornal: Entendemos que você está planejando uma campanha para fornecer absorventes higiênicos reutilizáveis em tecido para as meninas da Guiné Bissau. Poderia nos contar mais sobre essa campanha e como ela surgiu?

Rute: Na viagem conheci as comunidades e como o povo se organiza na cultura, sociedade e educação. Visitando as escolas e projetos, conheci as alunas que estudam em nossas escolas e também as alunas que receberam as máquinas. Pudemos conversar bastante e elas me relataram que por não haver recursos financeiros e nem como comprar os utensílios de higiene feminina, fazem uso de “trapos” na tentativa de minimizar as necessidades mensais. Neste momento pensei....O que eu posso fazer para melhorar a vida destas adolescentes e mulheres? A campanha pretende confeccionar absorventes reutilizáveis em tecido para a distribuição na Guiné-Bissau. Os absorventes são confeccionados em algodão e felpa (um espécie de tecido atoalhado) e tem a durabilidade de 2 a 6 anos.

Jornal: Quais são os principais desafios relacionados à saúde menstrual que as meninas na Guiné Bissau enfrentam, e como os absorventes higiênicos reutilizáveis podem fazer a diferença?

Rute: Como mencionado, na África falta tudo. As meninas que moram nas aldeias não têm acesso a itens de higiene feminina. Os absorventes reutilizáveis podem ser lavados (e só terá viabilidade nas aldeias que possuem acesso a água) e utilizados novamente, mês após mês por até 6 anos. O ideal é que cada adolescente e/ou mulher tenha de 2 a 3 absorventes de tecido para as trocas e lavadas. Além do auxilio a saúde da mulher, os absorventes de tecido cooperam com o meio ambiente, uma vez que cada absorvente demora cerca de 400 anos para se decompor.

Jornal: Você pretende. também envolver a comunidade local na produção dos absorventes higiênicos reutilizáveis? Como imagina que essa abordagem impactará a economia local e a conscientização sobre a saúde menstrual?

Rute: Sim. Faremos um grande projeto. Alunas da faculdade de Pedagogia e também as costureiras da associação de aposentados de Pirassununga estarão conosco. O impacto dos absorventes reutilizáveis coopera para o bem não só de mulheres africanas, mas de todas as adolescentes e mulheres na idade menstrual de uma sociedade. Quanto mais adeptas ao projeto melhor. Os absorventes de tecido ajudam na saúde da mulher, diminuem o investimento mensal com os industrializados e preserva o meio ambiente.

Jornal: Sabemos que projetos humanitários podem ser desafiadores em termos de recursos e financiamento. Como você arrecada fundos para apoiar suas iniciativas na Guiné Bissau?

Rute: Grande desafio. Todos os recursos são gerados da venda das t-shirts e doações. Já recebemos doações de R$5,00 como também doação de objetos como um instrumento musical.

Jornal: Por fim, que conselho ou mensagem você gostaria de compartilhar com outros que desejam se envolver em projetos humanitários semelhantes ou fazerem a diferença no mundo de alguma forma?

Rute: A Bíblia nos ensina que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao nosso próximo como a nós mesmos. E quem é o próximo? As pessoas da nossa família? Os amigos? O meu próximo são todas as pessoas de quem eu tenho conhecimento. Olhei para mim e percebi que sou milionária de tudo que o dinheiro não pode comprar e mais do que isso, tenho o suficiente para dividir.

Quem quiser ajudar ou adquirir as camisetas é só entrar em contato com a Rute pelo (19) 99761-5737

Rute, um exemplo a ser seguido!