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O USO MEDICINAL E RECREATIVO DA CANNABIS
Jornal Tribuna de Leme | 10/09/2023

O USO MEDICINAL E RECREATIVO DA CANNABIS

“O USO MEDICINAL E RECREATIVO DA CANNABIS”

O uso “medicinal e recreativo da cannabis” é um tema que gera polêmica em vários países, incluindo o Brasil. Neste artigo, vou abordar as principais preocupações das sociedades brasileiras de psicologia e psiquiatria, as opiniões das sociedades norte-americanas, o papel da cannabis no desencadeamento de patologias mentais, os prós e contras observados em outros países e o que pensam os senadores da República. Além disso, vou falar um pouco sobre a experiência de alguns países europeus que já regulamentaram a cannabis de alguma forma.

As sociedades brasileiras de psicologia e psiquiatria são contrárias à legalização da cannabis para fins recreativos, pois alegam que a droga pode causar dependência, prejuízos cognitivos, psicose e outros transtornos mentais, especialmente em jovens e pessoas vulneráveis. Elas defendem que o debate sobre a cannabis deve ser baseado em evidências científicas e não em interesses econômicos ou ideológicos.

As sociedades norte-americanas de psicologia e psiquiatria têm uma posição mais equilibrada, reconhecendo os riscos e benefícios potenciais da cannabis, mas também apontando as limitações dos estudos existentes e a necessidade de mais pesquisas sobre o tema. Elas defendem que os profissionais de saúde devem estar preparados para orientar os pacientes sobre o uso seguro e responsável da cannabis, bem como para identificar e tratar os problemas decorrentes do seu consumo.

 O papel da cannabis no desencadeamento de patologias mentais tem sido amplamente estudado. Alguns estudos sugerem que a cannabis pode aumentar o risco de esquizofrenia, depressão, ansiedade e suicídio, especialmente em pessoas com predisposição genética ou ambiental. Outros estudos indicam que a cannabis pode ter efeitos terapêuticos para algumas condições psiquiátricas, como transtorno de estresse pós-traumático, dor crônica e epilepsia. A relação entre a cannabis e a saúde mental pode depender de fatores como a dose, a frequência, a idade de início, o tipo de produto e a vulnerabilidade individual.

 Os prós e contras da legalização da cannabis para fins principalmente recreativos são debatidos em vários países. Entre os argumentos favoráveis, estão a redução do mercado ilegal, o aumento da arrecadação de impostos, a criação de empregos, a garantia da qualidade dos produtos, a proteção dos direitos individuais e a diminuição da violência associada ao tráfico. Entre os argumentos contrários, estão o aumento do consumo, o surgimento de novos problemas de saúde pública, o impacto negativo na educação e no trabalho, o estímulo ao uso de outras drogas e os custos sociais decorrentes da legalização.

No Brasil, há projetos de lei em tramitação no Congresso Nacional que propõem a regulamentação da cannabis para fins medicinais e recreativos. Um deles é o PL 399/2015, que prevê a liberação do cultivo doméstico, do comércio e do uso adulto da cannabis, com restrições e controle estatal. Outro é o PL 7270/2014, que prevê a descriminalização do porte de até 40 gramas de cannabis para consumo pessoal. No entanto, esses projetos enfrentam resistência de setores conservadores da sociedade e do governo. A opinião dos senadores da República sobre o assunto é variada, mas tende a ser contrária à legalização.

Na Europa, há uma diversidade de modelos de regulamentação da cannabis, que refletem as diferentes realidades e demandas de cada país. Alguns países são mais liberais, como a Holanda, que descriminalizou o uso recreativo de drogas leves desde 1976, ou Malta, que legalizou o uso recreativo da cannabis em 2020. Outros países são mais conservadores, como a França, que proíbe qualquer forma de uso da cannabis. E alguns países estão em processo de mudança, como o Reino Unido, que autorizou o uso medicinal da cannabis em 2018.

 Em resumo, o uso recreativo da cannabis é um assunto complexo que envolve diferentes perspectivas e interesses. Não há uma resposta definitiva sobre os seus benefícios ou malefícios para a saúde mental ou para a sociedade. O que se espera é que o debate seja conduzido com base em dados científicos e respeito à diversidade de opiniões.

Dr. Gustavo Antonio Cassiolato Faggion - Infectologista / Médico do Trabalho - CRM 76.810