FROSTBITE
As baixas temperaturas provocam um fenômeno chamado vasoconstrição dos capilares, pequenos vasos sanguíneos que existem sob a pele e chegam aos tecidos mais profundos. Eles têm uma delgada camada muscular capaz de contrair e relaxar de acordo com a necessidade metabólica ou diante de estímulos externos e internos.
No caso da exposição ao frio, a vasoconstrição ocorre para evitar a perda excessiva de calor e manter a temperatura corporal estável. Entretanto, a falta de proteção adequada às baixas temperaturas pode fazer com que o fenômeno seja tão intenso a ponto de impedir a circulação normal do sangue em determinadas regiões (perfusão tecidual insuficiente), principalmente as mais distantes do centro do corpo.
Em situações extremas, os capilares chegam a congelar – microcristais de gelo podem formar-se em seu interior. Esse evento recebe o nome em inglês de frostbite. As expressões em português que melhor o descrevem são “lesão pelo frio” ou “ulcerações pelo frio”, mas normalmente é usado o próprio termo em inglês.
Pessoas portadoras de diabetes, doença vascular periférica e condições que afetam a circulação, como a síndrome de Raynaud, por exemplo, têm maior incidência de complicações. Em geral, crianças e idosos são mais suscetíveis, mas a maioria dos casos atinge adultos entre 30 e 49 anos.
Sinais e sintomas de frostbite
Essas lesões costumam acontecer com maior frequência em extremidades: nariz, orelhas e dedos dos pés e das mãos. O primeiro sintoma de proteção inadequada ao ambiente é a sensação de pele fria, familiar a muitas pessoas que já saíram vestidas inadequadamente em um dia de inverno.
Depois, surge formigamento ou queimação. Se você sentir que uma parte do seu corpo está formigando ou queimando, é importante aquecê-la rapidamente. Geralmente, nessas situações, a pele ainda está rosada, ou seja, ainda há irrigação sanguínea adequada. Ainda nesses estágios podem surgir também bolhas, claras ou hemorrágicas.
Se depois do formigamento o incômodo passar, não é sinal de que o problema esteja resolvido. Quando a lesão pelo frio progride, a região afetada fica dormente, anestesiada e pálida ou esbranquiçada. Esse é um sinal de alerta: Procure imediatamente um local para se aquecer e, se possível, procure um serviço de saúde.
As lesões pelo frio que não são tratadas podem virar úlceras na pele e, em casos extremos, podem levar à gangrena da parte afetada.
Prevenção do frostbite
A melhor maneira de evitar as lesões pelo frio é a prevenção. Por isso, é importante saber reconhecer o problema rapidamente, pelos seus sinais e sintomas.
Se você não está acostumado a visitar ambientes muito frios, procure informações com quem está habituado com eles ou já esteve nesses lugares.
Seguem algumas medidas que podem ser úteis nessas ocasiões:
- Lembre-se de programar o tempo de exposição (evitar sair para caminhadas sem controle do tempo e da hora em que você deverá estar de volta) e certifique-se da rota a ser seguida;
- Leve líquidos quentes para tomar no caminho e mantenha-se bem alimentado. No frio, o metabolismo pode ficar mais acelerado para manter a temperatura corporal, o que é essencial para preservar a viabilidade de todos os tecidos;
- Use roupas adequadas. No Brasil a maioria não está acostumada a ter muitas vestes para o frio, mas existem lojas que oferecem opções de casacos, calças, segundas peles, luvas e gorros, além de óculos de proteção para vento e claridade da neve, que ajudam a evitar o congelamento da córnea e a fotoceratite;
- Entre as roupas, evite peças muito justas, que podem prejudicar a circulação;
- Procure sempre viajar acompanhado para o caso de precisar de ajuda;
- Em casos como os de prática de atividade física em local frio, a temperatura real pode ser mais fria que aquela percebida pelo corpo.
Primeiros socorros em caso de frostbite: Se a lesão ocorrer, enquanto não encontra um médico ou hospital você pode fazer o seguinte:
- Procure um abrigo aquecido;
- Remova anéis, relógios, pulseiras ou qualquer objeto que possa reduzir o fluxo de sangue para a parte afetada;
- Se houver água aquecida (o ideal é que esteja na temperatura de 40°C), deixe a parte acometida por 20 a 40 minutos em imersão, ou aplique-a com um tecido umedecido. Se não houver água aquecida, coloque a parte afetada sob as axilas ou virilhas de alguém que esteja junto com você – isso pode ajudar a reduzir a lesão final;
- Não tente aquecer a região esfregando, o gesto pode piorar a lesão;
- Beba líquidos quentes não alcoólicos e sem cafeína;
- Tire fotos da lesão desde o começo do tratamento. Isso pode ajudar os médicos a entender depois o ponto de origem do problema e como ele evoluiu.
O que você NÃO deve fazer:
- Embora seja intuitivo, não esfregue a região afetada;
- Não use fonte de calor direto sobre a pele (isqueiro, fogareiro, aquecedor elétrico etc);
- Não deixe que a região lesada seja congelada novamente (o prognóstico é muito pior após o segundo evento no mesmo local);
- Evite, se possível, caminhar se a parte acometida forem os dedos do pé.
ATENÇÃO: O tratamento das lesões mais graves é realizado nos hospitais. Informe-se sobre os serviços de saúde mais próximos antes de partir.
Fonte: Drauzio Varella